POR QUE FALTOU VIDRO NO MERCADO?

Diversas teorias tentaram explicar a falta. Eliminamos uma delas

mesmo com quatro fabricantes de vidro float instaladas no Brasil (agc, cebraceguardian e Vivix), atuando em um mercado brasileiro recessivo, o impensável aconteceu: faltou vidro incolor no mercado. Logo surgiram as teorias para tal falta, sendo que uma delas dizia que os fabricantes haviam “exagerado nas exportações em detrimento do mercado interno”.

 

DESABASTECIMENTO

Alguns distribuidores ficaram totalmente sem o material. Um grande distribuidor paulista, que recebia três cargas por semana, chegou a ficar mais de 20 dias sem nenhum recebimento. Associações regionais enviaram cartas abertas solicitando explicações.
Ao solicitarmos informações aos fabricantes, AGC não respondeu à nossa consulta até o fechamento desta edição e Guardian admitiu que o forno de Porto Real está sendo reformado, mas a diretoria da multinacional instalada no Brasil comunicou que não irá comentar a falta do produto neste momento. A brasileira Vivix respondeu que seus clientes estavam sendo abastecidos normalmente – somente os estoques dos Centros de Distribuição da empresa tiveram atrasos nas entregas devido à grande procura pelo produto de forma repentina.

Cebrace, por sua vez, enviou a seguinte resposta no início de outubro: “Por conta dos cenários econômico e de mercado, já desde o ano passado a Cebrace se organizou para exportar parte de sua produção. Mais recentemente, por conta da súbita demanda – melhor que a esperada –, fomos obrigados a readequar nosso planejamento, sempre com o objetivo de priorizar o mercado interno. Revisamos as exportações programadas e o Plano de Produção. Dessa forma, conseguimos aumentar nossa oferta de produto e teremos, em outubro, quatro linhas produzindo vidro incolor, o que possibilitará recuperar o nível de atendimento”.

 

EXAGERO NAS EXPORTAÇÕES?

Para checar a teoria do “exagero nas exportações”, lançada por vários distribuidores e vidraceiros, obtivemos, com auxílio do gerente de comércio exterior e logística da Abividro, José Carlos Dallacqua, o material de domínio público (Fonte: MDIC/Sistema ALICE ) abaixo. Por ele é possível verificar que realmente não houve qualquer grande exagero nas exportações, na comparação com o que foi feito nos anos anteriores.

Pelas informações obtidas nesse relatório é possível ver que as exportações de vidros realmente não são a principal alternativa dos fabricantes nacionais neste momento. A hipótese de dar preferência ao mercado externo, portanto, não faz sentido.
É fácil entender a lógica com um pouco da prática da “boa matemática”. Basta dividir o peso total das exportações deste ano pelo peso do metro quadrado do vidro temperado de 8 mm (20 kg) e descobrir que, se todo vidro incolor exportado tivesse a espessura de 8 mm, ao exportar os fabricantes teriam vendido o vidro 8 mm a menos de R$ 18,00 por metro quadrado (US$ 5,31), sendo que no mercado nacional conseguem vender por valor bem maior aos distribuidores e transformadores.
Caso todo vidro exportado este ano tivesse a espessura de 10 mm (25 quilos por metro quadrado), os fabricantes teriam vendido o metro quadrado desse item a R$ 21,97 (U$ 6,64), o que também é um valor bem baixo.

 

CONCLUSÃO

Considerando-se, portanto, que o mercado nacional de vidros não teve um aumento repentino de consumo, e que as exportações mantiveram o nível normal dos anos anteriores, a única explicação possível foi a combinação do reparo no forno, o que resultou em redução da produtividade nacional com a hipótese de que diversos distribuidores encheram seus estoques na tentativa de escaparem dos aumentos no preço do material. Nesse último caso, a falta teria sido motivada principalmente pelo fator especulativo.

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