Vidro diretamente na obra, sem caixilhos

Torre de TV Digital de Brasilia. Projeto de Oscar Niemeyer, anos 2000.

Solução apresentada no 2º Encontro Nacional de Temperadores de Vidros propõe mudança na forma de se comercializar e aplicar o vidro.

 

Antes de iniciarmos esta reportagem, vamos testar seus conhecimentos sobre o mercado vidreiro. Quais do itens abaixo é a alternativa mais correta.

  1. O vidro isoladamente não é um produto final, mas sim um componente de fachadas, portas, janelas, varandas, boxes e outros.
  2. Na maioria das vezes, as vendas de vidro estão nas mãos de caixilheiros, de funcionários das construtoras ou de outros, que chegam antes na obra e decidem qual tipo de vidro será utilizado.
  3. Nas obras, em geral, existe certo leilão entre os vários fornecedores de vidros, sendo que alguns baixam o preço a níveis que inviabilizam a possibilidade de lucro.
  4. Os arquitetos gostariam que o vidro flutuasse. Isso vem de encontro a outros conceitos e tendências, como o minimalismo, que consiste no uso mínimo de materiais e na máxima transparência.
  5. Alumínios consomem muita energia elétrica, e com a crise hídrica estão cada vez mais caros.
  6. Caixilhos em geral (metálicos, PVC ou madeira) costumam apresentar muitos problemas, tanto na instalação quanto na manutenção.
  7. Todas as alternativas acima são verdadeiras.

Se você escolheu a última opção, parabéns! Você está inteirado das dificuldades que transformadores, distribuidores e muitos vidraceiros enfrentam.

A boa notícia para o mercado é que existe uma solução única para todas essas situações. Ela foi apresentada por José Guilherme Aceto, diretor da Avec Design, durante a realização do II Encontro Nacional de Temperadores de Vidro, realizado em junho, em Atibaia (SP).

Guilherme apresentou, na ocasião, diversas soluções engenhosas que permitem que o vidro seja instalado com a mínima utilização de caixilhos. Nessas soluções, o vidro ganha uma função estrutural, ajudando a suportar seu próprio peso e reforçando a resistência de todo o conjunto.

Não se trata de um produto que está sendo testado agora. A solução já é utilizada há quase 20 anos e veio sendo aprimorada a ponto de se tornar extremamente eficiente, inclusive nos itens estanqueidade e durabilidade.

O fato novo é que a Avec está abrindo tal solução, compartilhando-a com o mercado e formando parcerias. Um modelo de negócios já está sendo estudado pela empresa com o auxílio de um consultor.

Resistência

Durante o II Encontro, foi possível perceber que alguns temperadores de vidros ofereceram resistência à inovação por motivos diversos. O principal deles é que será preciso pensar o vidro de forma diferente. Atualmente, os temperadores, distribuidores e até mesmo alguns vidraceiros não enxergam o que vai ao redor do vidro. Só veem o vidro e a metragem quadrada que será utilizada na obra.

A proposta da Avec tem foco no lucro e na utilidade. Segundo Guilherme, é possível cobrar até quatro vezes mais por metro quadrado de vidro fornecido, e ainda, sem a necessidade de realizar leilões com vários concorrentes. Isso, porque a empresa fornecedora passa a oferecer uma solução completa e mais eficiente, ao invés de engrossar a turma dos que oferecem parte da solução incompleta.

Outro motivo para a resistência é o não aproveitamento do modelo das empresas de têmpera ou distribuição atual. Tais empresas precisarão formar parcerias com seus clientes mais eficientes na instalação, além de fornecerem treinamento e condições para que esses parceiros proporcionem o devido retorno.

A princípio, pode parecer uma tarefa árdua, porém, se levarmos em conta que tais vidraceiros também estão procurando se diferenciar de tudo o que já existe no mercado para se destacarem, passa a ser uma simples junção de interesses comuns. Talvez, até mesmo uma forma de fidelização de tais clientes.

Do que se trata?

Em sua forma básica, a solução consiste em proteger as bordas dos vidros e, ao mesmo tempo, facilitar a fixação desse material nos locais diversos.

A Avec testou diversas formas no decorrer dos anos. Desenvolveu uma moldura feita de borracha de silicone, colou-a ao redor das peças e testou todas as possibilidades.

Descobriu que, dessa forma, tais painéis rígidos (vidro), com seu perímetro flexível e de formato preciso (perfil de borracha), poderiam ser aplicados facilmente em qualquer tipo de estrutura, inclusive de madeira ou concreto. Esse método foi denominado VES (Vidro Encapsulado em Silicone).

Em fachadas, o sistema Ecoglazing, derivado desse princípio, reveste com uma ligação elástica e definitiva, por meio de colagem estrutural (fixação química) e por garras e presilhas em aço inoxidável (fixação mecânica). Acompanhe na sequência abaixo, como a Avec revestiu todas as paredes da fachada de um Hotel em Lisboa (Portugal), com vidros serigrafados, dotados de riscos irregulares brancos. Mesmo em geometrias complexas, a tecnologia simplifica todas as etapas produtivas, oferecendo durabilidade, segurança e superior desempenho. “Essa transparência que se busca no vidro passa a ter a função estrutural. Em nossos projetos, usamos muito mais vidro que um sistema convencional, porém, com muito menos materiais secundários”, explica Guilherme, destacando que a Avec atualmente buscando ausência total de manutenção, meta que deve alcançar ainda este ano.

Como é possível acompanhar abaixo, tal sistema versátil substitui os convencionais caixilhos metálicos. Consiste em encapsular o vidro em suas bordas, com esse elastômero de silicone, que é a única borracha inorgânica (ligação química -sílica x oxigênio), capaz de aguentar variações de temperaturas que vão de noventa graus negativos até trezentos graus positivos.

Fato interessante é que, para fachadas a partir de quatro metros de altura, o sistema pode ser montado diretamente sobre estruturas em aço, inclusive inox, com menor custo que uma estrutura de esquadrias de alumínio para esse fim.

Guilherme ainda destaca que, por terem as bordas protegidas, o índice de quebras de vidros nas obras é praticamente zero.

Instalacao-Ecoglazing
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Marquise da Assembléia Legislativa de São Paulo (SP)
Marquise da Assembléia Legislativa de São Paulo (SP)

 

Portas e janelas

Uma variação do V.E.S está na produção de portas e janelas de correr, que podem suportar vidros de 8 ou 10 mm de espessura, sem furações para os rodízios. Estes são presos em um perfil de revestimento das bordas feito de silicone, porém, dotado de uma variação especialmente desenvolvida para suportá-los.

O conjunto pode ser montado sem caixilhos, em vidros temperados ou laminados, com total estanqueidade e possibilidade de abertura de até dois terços do vão. Segundo Guilherme, uma nova variação desse produto irá em breve ser utilizada como fechamento de varandas, que permite a abertura total, com vantagens sobre os atuais sistemas.

Cases

Todas as estações do metrô paulistano das últimas duas décadas foram construídas com o sistema da Avec. Além dessas obras, Guilherme cita alguns exemplos entre dezenas de outros.

A primeira é a Catedral de Brasília, envidraçada em 2010. Essa foi a terceira vez que os vidros foram substituídos, pois, transformavam o ambiente interno em uma estufa. “Desta vez, substituímos por um vidro que deixa dois terços do calor para fora. Hoje, ficou com temperatura adequada”, explica. A obra utilizou mais de 4 mil metros quadrados de vidro. Foram 6 mil peças, que, segundo Guilherme, possuem durabilidade que pode chegar a um século.

Outra obra que utilizou o sistema V.E.S., também em Brasília, foi a da Torre da TV Digital. Ela possui duas cúpulas, uma de 60 m e outra de 90 m de altura, com 22 metros quadrados de diâmetro e aproximadamente 500 metros quadrados de vidro em cada cúpula. Na cúpula de cima foi instalado um restaurante e na de baixo um espaço de exposições.

No Fitness Center do hotel Unique, em São Paulo, a Avec montou uma escada curiosa, em que o vidro laminado de temperados serve como estrutura. A pisada da escada é uma chapa de aço sem função estrutural, pois o papel de viga é desempenhado pelo vidro.

Também em São Paulo, uma obra emblemática montada pela Avec com os vidros encapsulados foi a nova fachada da Assembleia Legislativa, localizada no Parque Ibirapuera, incluindo uma marquise transparente feita inteiramente de vidro.

No edifício Trajano, no litoral paulista, as colunas receberam um sistema de proteção em aço inoxidável, no qual aperta-se a parte de cima e comprime-se a coluna de alumínio. Então, ela adquire resistência extra, permitindo a montagem de janelas sobre sem a necessidade de a coluna chegar ao teto.

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Em fase final de implantação, a Avec desenvolveu também o sistema de janelas SlidLux, em vidros temperados de 4 ou 6 mm, que são padronizadas e fáceis de instalar. São dotadas de acessórios invisíveis. Uma tecla aciona o cabo, e no mecanismo, sobem e descem dois pinos para travarem as duas folhas, que correm.

Na parte inferior, o puxador está acoplado à mão amiga, e o perfil de silicone promove a vedação. O grande diferencial se dá no sistema de deslizamento. São plásticos especiais com resistência à abrasão cinco vezes maior que o aço e possuem baixíssimo coeficiente de atrito.

Na versão da janela de 3 folhas (uma com vidro transparente e duas com vidros serigrafados), é possível o controle luminoso em um dormitório, com alto desempenho acústico.

Para mais informações, o site da Avec é: www.avec.com.br.

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