Tentando decifrar os vidros de controle solar

Vidros refletivos são complicados de se entender. Será que o produto está sendo bem apresentado?

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Nomenclatura e classificação dos vidros refletivos variam de fabricante para fabricante e confundem consumidores.

É inteligente projetar o envidraçamento de imóveis comerciais ou residenciais pensando-se no desempenho img2térmico adequado para o local, bem como o nível correto de luminosidade e, de quebra, o desempenho acústico. Esse é um fato! Na prática, entretanto, alguns empresários vidreiros se atrapalham na oferta do produto mais adequado e alguns clientes ficam perdidos quando ouvem opiniões divergentes de vários fornecedores. Conhecendo um pouco da história recente dos vidros de proteção solar, é possível perceber que a comunicação sobre essa linha de produtos precisa ser melhorada.

Vidros coloridos

Até o fim da década de 1970, barrar calor com vidros significava utilizar vidros coloridos na massa (bronze, fumê ou verde) na fachada. A eficiência desse recurso, entretanto, sempre foi limitada. img3Os vidros coloridos na massa absorvem a luz visível e o calor que a acompanha. Isso realmente ajuda a minimizá-lo um pouco, porém, a maior parte do calor acompanha a luz invisível, composta pelos raios ultravioleta (UV) e infravermelhos. E estes passam quase que diretamente (uma parte também é retida, especialmente quando é utilizado o vidro verde). Além disso, do calor absorvido pelo vidro colorido metade é irradiado novamente para dentro do ambiente (efeito vidro quente com transmissão por irradiação). Como efeito colateral, a luminosidade no ambiente interno é reduzida conforme a cor do vidro escolhido, sendo que o resultado pode ser bom, no caso de locais com alto índice de luminosidade, ou ruim, no caso de locais com baixa luminosidade.

Em resumo: essa não era uma boa forma de se manter o calor do lado de fora e, para compensar, os projetistas acabavam dimensionando para cima a potência do ar-condicionado, resultando em maior consumo de energia elétrica. Vidraceiros nacionais, entretanto, ainda recomendam tais vidros para barrar o calor, principalmente como solução prática e econômica.

Pirolíticos e laminados refletivos

Na década de 1980 chegaram os vidros refletivos, principalmente os pirolíticos (produzidos a quente no próprio img4forno float), fazendo grande sucesso. Quando lançado no Brasil, curiosamente, a maior novidade não era a capacidade que o novo produto possuía de bloquear melhor o calor. O que chamou a atenção dos designers, arquitetos e construtores era o fato do vidro permitir ver sem ser visto.

Em um segundo momento dos vidros refletivos, já na década de 1990, estes ainda continuavam fazendo sucesso e apresentados como novidade. Surgiram então os vidros refletivos chamados de “alto desempenho”, que não eram pirolíticos, mas produzidos depois, a frio. Possuíam melhor capacidade de bloquear o calor, mas tinham como limitação a necessidade de serem instalados sempre na versão laminada, pois a sua camada interna era muito sensível à abrasão e a produtos químicos.

A capacidade de bloquear o calor já era conhecida dos especificadores, entretanto não era o principal argumento de venda dos empresários vidreiros. O principal era o efeito espelhado high-tech, que poderia ser proporcionado em várias cores, que iam do prata total, que era quase um espelho, até uma leve tonalidade azulada, passando pelo verde, cinza e dourado. Isso sem contar as versões laminadas com interlayers (PVB ou resina) coloridos. As fachadas com alto grau de refletividade eram tidas como fachadas modernas e faziam grande sucesso.

Embora nessa época os fabricantes já usassem complicadas tabelas indicando o valor “U”, o fator solar e outras informações, no momento da venda pelos distribuidores era comum que a escolha fosse feita simplesmente instalando-se peças de cores e níveis de reflexão variados na fachada, para que o proprietário escolhesse a que melhor lhe agradasse.

Vidros duplos

Para o filão de arquitetos que buscavam soluções mais efetivas, havia img6ainda nesse período a opção de utilização dos vidros duplos, incluindo a versão dotada de persianas internas. Porém, no Brasil os vidros duplos eram oferecidos, na maioria das vezes, como solução acústica, e não como a forma mais eficiente de se obter atenuação do calor com maior aproveitamento da luz natural.

Sustentabilidade

Desde a virada do século, entretanto, as discussões sobre a preservação dos recursos naturais mudaram o img5conceito dos especificadores. As fachadas com alto índice de reflexão perderam um pouco de seu espaço para as que possuem aspecto mais natural e sustentável.

Curiosamente, alguns fabricantes tentaram retirar a palavra “refletivo” dos novos vidros de controle solar, embora tecnicamente recebessem também uma camada refletiva. É o caso dos vidros baixo emissivos, ou Low-E. Primeiramente tentou-se utilizar o nome Low-E ou baixo emissivo. Quando perceberam que o mercado não compreendia bem esse produto, passaram a falar de vidros seletivos, classificando os refletivos tradicionais como de baixa ou média seletividade e os vidros baixo emissivos como sendo de alta seletividade, ou seja, aqueles que conseguem barrar muito calor (semelhante aos mais refletivos) ao mesmo tempo em que permitem vasta entrada de luz para o ambiente interno, mantendo a neutralidade dos vidros em seu aspecto externo.

Todos ainda no mercado

É curioso destacar que praticamente todos os vidros de controle solar já lançados no Brasil continuam no mercado. O que tem mudado é a forma de apresentá-los aos consumidores.

Vidros refletivos são mencionados somente quando o cliente deseja um efeito espelhado. Agora estes são apresentados como “linha de controle solar”, sendo que alguns fabricantes as dividem em duas: produtos de controle solar residencial e produtos de controle solar comercial.

Nesses dois segmentos existem vidros com índices de refletividade que vão desde o quase transparente ao praticamente espelhado. A diferença é que o quase transparente da linha residencial possui capacidade de barrar o calor muitíssimo inferior ao seu similar (na aparência) da linha comercial.

Alguns distribuidores, por desinformação ou não, oferecem um como sendo outro em resposta a um pedido de orçamento, afinal, os dois são vidros de controle solar com aparência neutra. Para complicar, outros fornecedores do mercado continuam apresentando os vidros pela fórmula anterior, de destacar os baixo emissivos (ou Low-E) como uma categoria à parte e distante dos vidros refletivos, enquanto outros destacam o nome comercial de seus produtos sem identificar a que categoria pertencem.

Imaginem, portanto, a confusão do construtor ou responsável por obras que visita vários distribuidores tentando comparar preços mantendo a especificação do projeto.

A padronização da linguagem e a simplificação, talvez até mesmo com a eliminação de alguns produtos, são atos necessários ao setor, principalmente se for levado em conta que os especificadores atualmente estão buscando luz natural (sem ofuscamento), contato visual com o ambiente externo, segurança, resistência, redução do ganho de calor solar e custo acessível. Conciliar tudo isso em um único elemento, visando alto desempenho, inclusive acústico, ainda é um desafio em qualquer tipo de edificação.

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