Vidros que se pagam insulados e laminados de controle solar

A escolha do vidro certo pode pagar os custos da fachada com o tempo

 

Diversas vidraçarias ingressaram nesta última década no ramo de construção de fachadas. E essa tendência tende a se intensificar com as facilidades criadas pela Rede Credenciada Alclean.

É preciso, entretanto, que esse ramo esteja preparado também para vender o produto. Que as vidraçarias estejam prontas a apresentar às construtoras e investidores em edifícios, além da beleza estética de uma fachada envidraçada, os seguintes argumentos:

– O uso de fachadas de vidro vem crescendo em edificações comerciais, residenciais e públicas no Brasil desde a década de 50; portanto, é uma tendência.

– O aproveitamento da luz natural é benéfico à saúde e ajuda a economizar energia com iluminação;

– A maior abertura visual valoriza o empreendimento e facilita a venda.

– Limpeza na obra e a rapidez na construção são alguns dos pontos positivos dessa solução construtiva.

– Retrofits de fachadas antigas – principalmente no caso de sobreposição de fachadas – melhoram a imagem e também o desempenho térmico e acústico dos edifícios.

Vidros se pagam com o tempo?

Essa proposta de tema apresentado pela Revista Tecnologia & Vidro foi questionada pelo responsável pelo setor de marketing da AGC Vidros do Brasil, Matheus Oliveira. Segundo ele: “Em alguns projetos a escolha de vidros com propriedades de barrar o calor e permitir a luminosidade adequada já se paga na instalação, quando ocorre a redução de carga térmica do equipamento de refrigeração”.

O argumento é válido. Empresas de refrigeração de edifícios possuem programas de computador (softwares) que avaliam a necessidade, medida em BTUs, da potência necessária para refrigerar andares ou todo o edifício. Para fazer tal cálculo esses softwares são abastecidos com informações diversas, incluindo a incidência de Fator Solar, Transmissão Luminosa e Transmitância Térmica dos vidros da fachada. Como o investimento na refrigeração adequada é geralmente alto, em alguns casos, somente o dimensionamento menor do sistema de ar-condicionado é capaz de pagar o custo da fachada. Ou seja, de forma imediata.

Vantagens evidentes

 

 

Mesmo ignorando essa questão colocada por Matheus sobre o custo inicial do sistema de ar-condicionado, o vidro adequado na fachada é economia certa e que pode ser comprovada.

Um estudo decisivo sobre esse tema foi apresentado no XV Encontro Nacional de Tecnologia

do Ambiente Construído, realizado em 2014 na cidade de Maceió (AL). O professor do departamento de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Fernando Westphal, em parceria com Priscila Besen, apresentaram tal estudo comparativo de viabilidade econômica com a utilização de vidro comum versus 35 tipos diferentes de vidros de controle solar no Brasil, conforme tabela abaixo:

 

Seis cidades

O estudo fez uma análise técnica e econômica sobre a influência de vidros de fachadas na eficiência energética de um edifício comercial de escritórios em seis cidades brasileiras: Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo. O termostato do sistema foi ajustado em todas as cidades para manter a temperatura entre 18 °C (aquecimento) e 24 °C (resfriamento).

Tarifas de Energia

Cada uma das seis cidades analisadas é atendida por uma concessionária de energia elétrica diferente. Além dos custos diferenciados em função da localização geográfica, que interfere nos custos de geração e distribuição, há diferenças nas alíquotas de impostos entre cada concessionária (ICMS, PIS e COFINS). Os valores adotados datam do ano de 2007, para faturamento em baixa tensão, do tipo comercial (subgrupo B3). Há grande variação entre os valores cobrados pelas concessionárias de diferentes regiões. A diferença do maior valor (Fortaleza, R$ 0,52507/kWh) para o menor (Brasília, R$ 0,34033/kWh) chega a 54%.

Simulação por computador

O estudo foi feito através de simulação computacional no software EnergyPlus. Como modelo para a simulação foi utilizado um edifício de escritórios virtual com percentual de abertura nas fachadas de 50% e área total construída de aproximadamente 12 mil m².

O modelo completo possui área total de 11.942 m², sendo 9.038 m² de áreas de escritórios, climatizadas artificialmente. As fachadas possuem um total de 3.008 m² de área de janelas (vidros), resultando em um percentual de abertura nas fachadas correspondente a 50%.

Resultados

Após se analisar a economia obtida com cada tipo de vidro, na comparação com o vidro comum incolor, a maior economia foi alcançada em Fortaleza, com o vidro insulado de fator solar 18% e transmissão luminosa 13%, que proporciona uma redução anual de R$ 180 mil na conta de energia elétrica em relação ao modelo com vidro incolor monolítico. Dividindo-se essa economia por 3.008 m² de área de vidro do projeto, supõe-se que o investidor teria aproximadamente R$ 60 mil disponível por ano para investir nesse vidro, além do gasto necessário para aquisição do vidro incolor.

Os gráficos abaixo mostram os desempenhos dos vidros em Belo Horizonte, cuja maior economia pode chegar a mais de R$ 120 mil ao ano com o vidro insulado de fator solar 18% e transmissão luminosa 13%. E, para exemplificar que cada tipo de vidro deve ser especificado de acordo com as características de cada cidade, em Curitiba a maior economia anual (R$ 80 mil) se dá com o vidro de controle solar laminado de fator solar 30% e transmissão luminosa 16%.

Retorno financeiro

“Melhor desempenho de vidros variou conforme região pesquisada”

O estudo avaliou também o período de Retorno (em inglês, payback) do Investimento na aquisição de vidros de controle solar. Foram selecionadas quatro especificações de vidros para apresentação do estudo de viabilidade econômica, incluindo o payback simples, payback corrigido e taxa interna de retorno (TIR). Para o cálculo, foi considerada a economia anual em custo de energia elétrica, em comparação ao consumo com vidro incolor monolítico e o custo de aquisição de cada vidro.

Observa-se, nos resultados da tabela, que Fortaleza e Rio de Janeiro apresentam TIR mais altas para os quatro vidros listados, pois tratam-se dos climas mais quentes, onde a instalação de vidros seletivos seriam facilmente justificados no lugar de um vidro incolor. O uso de vidro laminado de fator solar 30% na cidade de Fortaleza foi a situação que resultou no payback mais curto, 1,8 ano, ou 22 meses, e a TIR mais alta, 66,2%, mostrando que o investimento é altamente viável. Isso significa que caso o investidor aplicasse seu capital em vidros de controle solar, considerando um período de dez anos, o lucro sobre o capital investido – na forma de redução na conta de energia elétrica – seria de 66% ao ano.

Porém algumas opções de vidro não são vantajosas. Por exemplo, em Curitiba, o cálculo para os dois vidros insulados resultaram em TIR inferior a 12% a.a., o que significa que para o investidor vale mais a pena aplicar seu capital no mercado financeiro do que nessas opções de fachadas. Lembrando-se, entretanto, que nesse cálculo não está sendo incluída a redução inicial no custo da obra pelo menor dimensionamento do sistema de ar-condicionado.

O cálculo do Período de Retorno dos Investimentos mostrou que, além de uma maior eficiência energética, a aplicação de diversas especificações de vidro pode trazer benefícios econômicos até mesmo a curto prazo. Vidros laminados com um baixo fator solar, como é o caso do vidro FS30/TL16/LAM, podem ter seu investimento inicial pago em até 1,8 ano (22 meses) na cidade de Fortaleza ou 2,1 anos em Belo Horizonte (25 meses). De maneira geral, os vidros insulados, por possuírem custos mais elevados, apresentaram períodos de retorno mais curtos apenas nas cidades de clima mais quente. Ressalta-se, porém, que os vidros com os melhores resultados em consumo energético possuem menores índices de Transmissão Luminosa (TL), o que traz implicações para o aproveitamento da iluminação natural, que não foram consideradas nesse estudo.

“Em alguns casos investimento adicional em vidros de controle solar podem se pagar em período inferior a dois anos”

Conclusões

Tendo em vista que o sistema de vedação externa de uma edificação deve ter, por norma, uma vida útil de pelo menos 40 anos (NBR 15575/2012), enquanto o sistema de condicionamento de ar terá vida útil de 10 a 15 anos em média, nota-se a importância dos investimentos em estratégias passivas de eficiência energética. Sendo assim, o vidro utilizado em um projeto arquitetônico constitui-se em uma estratégia passiva que tem grande influência sobre o consumo energético.

A partir dos resultados deste estudo, demonstra-se que as decisões de projeto acerca da fachada de um edifício não devem ser feitas apenas com base em implicações estéticas, pois esta se trata de um elemento fundamental para o desempenho termo energético de uma edificação e, além disso, para seus resultados econômicos a longo prazo.

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp